domingo, 27 de março de 2011

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

Na semana passada escrevi no blog sobre as dificuldades do envelhecimento para as mulheres. As preocupações, escolhas e as transformações dos corpos das mulheres que estão se aproximando ou que já estão no climatério e na menopausa.
Além dos comentários postados no blog, várias pessoas - mulheres e homens - escreveram para o meu e-mail, com depoimentos belíssimos sobre os seus processos e experiências de chegar à maturidade.
É especialmente a essas pessoas, que dedico esse post, já com os meus agradecimentos.

A Organização Mundial de Saúde define como idosa a pessoa com idade a partir de 65 anos. Mas até chegar lá, um longo caminho nos espera. Para quem tem cinqüenta anos ou mais nem tão longo assim.
No Brasil, o Estatuto da Pessoa Idosa reconhece seus direitos a partir dos sessenta anos e a previsão é que em 2025 teremos no país 30 milhões de idosos.
Muitas são as mudanças na vida de uma pessoa idosa, mas isso vai acontecendo à medida em que a idade avança, em torno dos 40-50 anos de idade, período em que ocorre uma maior incidência de doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade e hipertensão arterial.
Já falamos muito sobre as mudanças fisiológicas e corporais das mulheres, afinal de contas esse é um blog sobre o climatério e a menopausa. Já sabemos que os ovários deixam de produzir estrogênio e progesterona e como conseqüência, as mulheres param de menstruar e há um fim da sua capacidade reprodutiva. Mas até chegar à menopausa, vivemos esse período - por vezes difícil - chamado climatério.
Ondas de calor, irritabilidade, suores noturnos, insônia, diminuição da libido e ressecamento vaginal são alguns dos sintomas que acompanham as mulheres no climatério. Nem todas as mulheres se queixam, mas uma boa parte delas sentem tais sintomas, entre outros.

E nos homens, como isso acontece?

Cenas do filme "Alguém tem que Ceder" (EUA, 2003).
De forma bem-humorada, a roteirista e diretora Nancy Meyers, mostra o drama e dilemas vivenciados por homem e mulher de meia-idade, entre eles o sexo.
No filme, Harry (Nicholson) namora uma bela jovem com idade para ser sua filha, de nome Marin (Amanda Peet) e viaja com ela para passar um final de semana em uma praia. Para surpresa geral, na casa de praia estão a mãe - Érica (Diana Keaton) e a tia da jovem, Zoe (Francis MacDormand). Numa cena hilária, Harry sofre um pequeno ataque cardíaco e é atendido pelo jovem médico Julian Merce (Keanu Reeves), que o aconselha a se instalar na casa de praia de Érica até ficar totalmente restabelecido.
Quando tia e jovem voltam para Manhattan, Érica então se vê obrigada a hospedar o namorado da filha. Muita coisa acontece, inclusive um envolvimento entre os dois.
Considerada a primeira comédia da Era Viagra, o filme mostra que a paixão entre duas pessoas de meia-idade pode ser sexy, sensual e deliciosamente ardente.

Nos homens, a chegada ao envelhecimento físico vem acompanhada de uma série de mudanças, entre
elas a diminuição da produção de testosterona, que é considerado o hormônio masculino mais importante. Esse fenômeno é denominado andropausa, embora pouco falado e pouco conhecido pela maioria dos homens. É um período em que podem ocorrer perda de interesse sexual, problemas de ereção, queda de pelos, aumento de peso, insônia, irritabilidade, diminuição da massa muscular, dificuldade de concentração entre outros sintomas.
Acima, foto do filme Beleza Americana (1999, EUA)
(http://www.adorocinema.com/filmes/beleza-americana).

São muitos os mitos, tabus e preconceitos em relação ao sexo e as mulheres de meia-idade, o que também acontece com os homens.
Porém, é preciso lembrar que o amor, a paixão e a sexualidade não estão condicionados somente ao corpo físico e à idade biológica. Tem a ver com a cultura, com os comportamentos, com a nossa subjetividade e com padrões estéticos impostos pela sociedade.

Mas pode ser diferente. Uma vida amorosa e prazeirosa contribuem para a preservação da saúde física e mental. Portanto, o amor, o sexo, a paquera e a paixão podem estar presentes em todas as pessoas, das mais diferentes idades. Podemos experimentar e vivenciar tudo aquilo que faz bem.
Namorar e fazer amor podem ser boas experiências em qualquer idade.

E para concluir, como diz a canção,
"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."

(Dom de Iludir)

quarta-feira, 16 de março de 2011

O desejo por sexo.

Há quase dois anos decidi assumir os meus cabelos brancos. Cansei de me olhar no espelho e me deparar com uma mulher perto dos cinquenta anos querendo uma aparência de... trinta e cinco.
Foi um decisão bem difícil, mas me tomei de coragem e disse: "Chega! Não quero mais isso!"
Essa ditadura da beleza que leva as mulheres - os homens em menor escala - a fazerem cirurgias plásticas, lipoaspiração e todo tipo de tratamento para aparentar anos a menos do que se tem, eu decididamente, não quero pra mim.
Essa semana lendo a matéria "A idade da convicção" na revista Carta capital (www.cartacapital.com.br) pensei em tudo isso.
Na revista, de forma bem-humorada, Isabella Rosselini fala sobre a sua trajetória de vida e nos presenteia com uma reflexão acerca da maturidade. Além de presidente do júri da mostra competitiva do festival de Berlim Isabella é também a protagonista do filme "Late Bloomers", onde ela faz o papel de Mary, uma mulher que começa a sentir os sinais da velhice e tenta se adaptar à nova condição procurando se cuidar e estabelecer uma meta social. Na foto abaixo, cena do filme "Late Bloomers" da diretora Julie Gavras, Isabella Rosselinni com com William Hurt (ultimosegundo.ig.com.br)
Como muitas de nós, a atriz, diretora e ex-modelo da Lancôme que está perto de completar 59 anos, está envelhecendo e resolveu assumir tranquilamente as suas rugas. Ela diz: "Não quero ser jovem , ou ser considerada como tal. Quero sempre ser sofisticada, isso sim, aparentar a idade que tenho e não ouvir que pareço mais jovem do que sou."
Isso me emocionou muito. Tenho lido algumas entrevistas, matérias e notas sobre o filme "Late Bloomers" que aguardo ansiosamente para assistir. É uma comédia dramática que fala sobre a velhice.
Aqui no blog tenho procurado fazer uma discussão também sobre o envelhecimento, pois o climatério e a menopausa é um indício de aproximação da maturidade. E para nós mulheres, é ainda mais difícil lidar com a velhice. Vivemos em um cultura que ainda descarta o que é velho, que valoriza a aparência e, portanto, alia a beleza à juventude. Envelhecer é sair do foco.
Por isso, quero dialogar sobre os mitos do climatério e da menopausa.
A vida sexual da mulher madura ou da mulher velha é ainda tratada de forma muito preconceituosa. Dependendo da idade é quase obsceno falar em desejo, gozo e prazer.
Na foto ao lado, Meryl Streep em cena do filme "O Diabo Veste Prada"

Mas, o que sabemos é que na verdade a vida sexual, o desejo por sexo, pelo prazer não tem idade para acabar.
Como no conto "Ruído de Passos" (A Via Crucis do Corpo, Clarice Lispector):
Tinha oitenta e um anos de idade. Chamava-se dona Cândida Raposo.
Essa senhora tinha a vertigem de viver. A vertigem se acentuava quando ia passar dias numa fazenda: a altitude, o verde das árvores, a chuva, tudo isso a piorava. Quando ouvia Liszt se arrepiava toda. Fora linda na juventude. Tinha vertigem quando cheirava profundamente uma rosa.
Pois foi com dona Cândida Raposo que o desejo do prazer não passava.
Teve, enfim, a grande coragem de ir a um ginecologista. E perguntou-lhe envergonhada, de cabeça baixa:
-Quando é que passa?
-Passa o quê, minha senhora?
-A coisa.
-Que coisa?
-A coisa, repetiu. O desejo de prazer, disse enfim.
-Minha senhora, lamento lhe dizer que não passa nunca.
Olhou-a espantada.
-Mas eu tenho oitenta e um anos de idade!
-Não importa, minha senhora. É até morrer.
-Mas isso é o inferno!
-É a vida, senhora Raposo.
A vida era isso, então? essa falta de vergonha?
-E o que é que eu faço? ninguém me quer mais...
O médico olhou-a com piedade.
-Não há remédio, minha senhora.
-E se eu pagasse?
-Não ia adiantar de nada. A senhora tem de se lembrar que tem oitenta e um anos de idade.
-E... e se eu me arranjasse sozinha? O senhor entende o que eu quero dizer?
-É, disse o médico. Pode ser um remédio.
Então saiu do consultório. A filha esperava-a embaixo, de carro. Um filho Cândida Raposo perdera na guerra, era um pracinha. Tinha essa intolerável dor no coração: a de sobreviver a um ser amado.
Nessa mesma noite deu um jeito e solitária satisfez-se. Mudos fogos de artifícios. Depois chorou. Tinha vergonha. Daí em diante usaria o mesmo processo. Sempre triste. É a vida, senhora Raposo, é a vida. Até a bênção da morte.
A morte.
Pareceu-lhe ouvir ruído de passos. Os passos de seu marido Antenor Raposo.

terça-feira, 8 de março de 2011

8 de Março - Dia Internacional da Mulher

Hoje é o Dia Internacional da Mulher e no mundo inteiro as mulheres saem às ruas para reivindicar igualdade, melhores condições no trabalho, pela legalização do aborto, pelo fim das discriminações, contra a lesbofobia, por liberdade e por direitos.

É um dia de comemorar as conquistas e, ao mesmo tempo de seguir lutando. É uma data muito especial para o feminismo e para o socialismo. O Dia Internacional da Mulher foi proposto por Clara Zetkin em 1910 no II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas.
Na foto, Clara Zetkin (1857-1933) com Rosa Luxemburgo a caminho do Congresso do Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) em 1910.


Mas é também uma data muito importante pelo simbolismo que ela representa, uma vez que agrega mulheres de todos os continentes contra as opressões, contra a hierarquia entre os sexos.

Nós vivemos numa sociedade dominada pelo sexo masculino, ainda com muitos privilégios para os homens.

No começo do mês, li uma matéria que me fez pensar como ainda temos que lutar.
Era uma notícia sobre a pesquisa da Fundação Perseu Abramo "Mulheres Brasileiras e gênero nos espaços público e privado", realizada em agosto de 2010 (www.perseuabramo.org.br), entre os assuntos investigados, chama a atenção o tema da violência contra a mulher.

O estudo foi feito em 25 Unidades da Federação, ouvindo 2.365 mulheres e 1.181 homens, com idade acima de 15 anos, atingindo áreas urbanas e rurais de todas as macrorregiões do país. A pesquisa mostra que a cada 2 minutos cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil.

A violência contra a mulher é um entre tantos exemplos de como ainda é preciso agir. Ainda é preciso muita luta pela igualdade de direitos. Penso nas mulheres negras. Nas agricultoras. Nas trabalhadoras domésticas. Nas mulheres lésbicas.

O racismo é estruturante das hierarquias que se criam na sociedade, como diz a ministra da Igualdade racial, Luiza Bairros. E com as mulheres negras, o racismo é elevado ao cubo.

No campo, a sobrecarga de trabalho das mulheres começa antes mesmo de amanhecer o dia e compreende a atividade na roça, a responsabilidade de cultivar os produtos que fazem parte da mesa da família e o cuidado da casa e dos filhos, considerada uma atribuição das mulheres.

As mulheres estão em todos os lugares e aparecem sempre como cidadãs de segunda categoria. E ainda vai demorar um tempo para mudar esse quadro.

É preciso transgredir. Romper. As regras, as normas, o que nos impõe o patriarcado.
É preciso enfrentar a misoginia, a violência de gênero, as desigualdades políticas econômicas e sociais.

É isso.

O feminismo é uma luta política contra a misoginia e a opressão histórica contra as mulheres. É um movimento ideológico, social e político. Mas é também uma forma de estar no mundo. Sigamos em frente. Nenhum direito a menos e alguns direitos a mais.

terça-feira, 1 de março de 2011

Mês da Mulher.

Hoje começam as comemorações do 8 de Março - Dia Internacional da Mulher. Os motivos para comemorar são inúmeros; as conquistas, são infindáveis. Mas o 8 de março é sobretudo, um dia de luta. Ainda vivemos numa sociedade machista, patriarcal, onde as mulheres são assassinadas porque os homens se acham proprietários de seus corpos. Somos mais de 51% da população brasileira, mas a representação feminina na Câmara Federal é de apenas 9% e 13% no Senado, além de não ultrapassamos os 12% das vagas nas assembleias legislativas.


Apesar de toda essa adversidade, a ousadia tem sido a nossa marca. Por isso hoje, enquanto pensava sobre as tantas mulheres que se sobressaíram na história do Brasil, lembrei de Chiquinha Gonzaga. Esse ano, o 8 de março cai no carnaval e Chiquinha era compositora, regente e musicista. A primeira pianista de choro e autora da primeira marcha carnavalesca: Ô Abre Alas. Mas para as mulheres que estão na faixa etária dos 50 anos, Chiquinha é também um exemplo de como recomeçar a vida em qualquer idade. (http://www.netsaber.com.br/biografias)

Chiquinha casou aos 16 anos de idade e separou dois anos depois. Saiu de casa, perdeu a guarda dos filhos e lutou muito contra uma sociedade preconceituosa. Mas até aí, nenhuma novidade. Até hoje seguimos lutando contra uma sociedade machista e preconceituosa. O que nos causa mais admiração, é que essa mulher disse NÃO muitas vezes. Não à determinação, não à traição dos homens, não às imposições.

Enfim, é uma bela e longa história de amor, de coragem e de recomeços. Casamentos desfeitos, separada dos filhos mais de uma vez, vivendo da sua música, Chiquinha depois de décadas sozinha - sim, porque as mulheres vivem sozinhas, sem nenhum problema - e aos 52 anos, ela conhece João Batista um rapaz de 16 anos. Com ele, Chiquinha Gonzaga vive um grande e último amor. Morreu aos 87 anos, ao lado do homem que amava.

Para encerrar esse post, deixo um pout-pourri de Gonzaguinha.
A gente vai continuar conversando sobre as conquistas e sobre a luta das mulheres.
Viva o 8 de Março! Dia Internacional da Mulher!

Gonzaguinha - Ponto de Interrogação, Grito de Alerta, Explode Coração