domingo, 31 de julho de 2011

O orgasmo nosso de cada dia.

Modigliani (imagens google)
Hoje comemora-se o Dia Mundial do Orgasmo. A data - 31 de julho - como já dissemos aqui, surgiu na Inglaterra como uma forma de aquecer as vendas em casas de sex shop britânicas e também para trazer a discussão sobre a sexualidade feminina.
Segundo o dicionário, "orgasmo é o mais alto grau da satisfação sexual, quando se atinge a plenitude das sensações". O orgasmo dura apenas alguns segundos e a palavra em grego significa "ferver de ardor". 
Para escrever esse post dei uma olhada nas matérias das revistas ditas "femininas" e sempre fico muito impressionada com o resultado. Se por um lado, há a ditadura da beleza que nos escraviza e impõe determinados modelos e padrões, por outro lado é muito forte a obsessão pela performance sexual perfeita.
E o que é pior? "Ninguém sabe o que é a tal performance perfeita - nem especialistas em sexualidade, nem sequer psicólogos, muito menos ginecologistas. Até porque a sensação de prazer é pessoal e intransferível". Na matéria Abaixo a ditadura do orgasmo as jornalistas Patricia Diguê e Verônica Mambrini arrasam, desmistificando a tão sonhada sensação.
Alguns dos mitos em torno do orgasmo estão relacionados aos tais padrões de beleza impostos para as mulheres, como a auto exigência de um corpo "perfeito": magro e sem estrias ou celulite.
Outro dia fiquei surpresa quando uma amiga minha contou que não consegue tirar a roupa na frente do marido se estiver com a luz acesa, pois desde que ela teve nenê as suas formas não são as mesmas. Imagino que essa situação, que se traduz em sofrimento, aconteça com muitas outras mulheres. E isso tem a ver com a baixa auto-estima, mas também com as diferenças culturais determinadas pelo gênero e pelo sexo, que padronizam as mulheres e idealizam tipos físicos que muitas vezes estão longe da realidade.
Além disso, os manuais, as inúmeras publicações demonstrando o passo-a-passo para o orgasmo, o Guia do orgasmo estão sempre nos impondo um modelo de prazer que nem sempre se encaixa no nosso orgasmo da vida real. E muitas vezes, o mais importante é o percurso, o caminho e não a chegada.  Quando o orgasmo vira uma obrigação, muitas mulheres acabam sofrendo com a cobrança interna, muitas vezes resultado da pressão social. Por outro lado, já falamos AQUI aqui que 'a preocupação com a performance sexual faz com que muitas vezes, as pessoas fiquem tão imbuídas em demonstrar que são verdadeir@s atletas sexuais que acabam por investir pouco no prazer sexual da outra pessoa.' E por que não dizer, no seu próprio prazer?
Também já sabemos que existem muitas formas de atingir um orgasmo e a masturbação pode ser uma delas. E para isso não precisamos de ninguém, a menos que faça parte do jogo erótico com o parceiro ou com a parceira. Inúmeros brinquedinhos são vendidos em sex shopping: elétricos, manuais, para estimular o clitóris, à prova dágua, vibradores com pulsação, enfim, tem pra todo tipo de gosto e de prazer.                          
Objetos eróticos criativos

Nessa onda dos manuais e das muitas formas de atingir um orgasmo, tem também a nova música de Erasmo Carlos e Arnaldo Antunes: Kamasutra. Vejam a letra:

Hu, hu, hu
Hu, hu, hu
Hu, hu, hu
Em que posição?
Frontal, de pé, por trás ou de lado
A hidra às voltas com o dragão
Tesoura, fechadura ou de quatro
Em que posição?
Coqueirinho ajoelhado
Trapézio ou carrinho de mão
Gangorra de cabeça pra baixo
Em que posição?
Ficamos de mãos dadas no improvável caranguejo
Mas foi com a chave de ouro que o namoro começou
No 69 a gente deu nosso primeiro beijo
O que faremos hoje com nosso desejo?
Onde colocar o amor?
O enroscado da trepadeira
Picada de escorpião
Guindaste, tartaruga ou vaqueira
Em que posição?
Fênix na caverna vermelha
Noventa graus de conexão
Carrossel ou chão de estrelas
Em que posição?
Já experimentamos quase o Kama Sutra inteiro
Até contorcionismo a gente às vezes praticou
A borboleta em concha fez você gozar primeiro
Mas no tradicional papai-mamãe 
Foi que a gente mais arrebentou
O parafuso, a ponte e o arco
Da rã, do carangueijo ou do cão
Lótus, vai e vem, tiro ao alvo
Em que posição?
Hu, hu, hu
Hu, hu, hu
Hu, hu, hu
Em que posição?

Para finalizar o post, deixo a música Je T'aime, de Serge Gainsbourg que se chamava Lucien Ginzburg e mudou o nome na década de cinquenta. Músico, cantor e compositor francês, que eu ouvia ainda na minha adolescência. Essa música, particularmente, é a minha primeira fantasia sexual sobre um orgasmo. Na minha casa tinha um vinil e eu escutava inúmeras vezes achando o máximo.

Um feliz Dia do Orgasmo para nós!


segunda-feira, 18 de julho de 2011

Cinquentinha... ou mais.

Acima, da esquerda para a direita:
Meryl Streep, Bruna Lombardi, Isabelle Huppert e Angela Vieira;
abaixo, da esquerda para a direita: Isabella Rossellini; Helen Mirren; Catherine Deneuve e Irene Ravache (www1.folha.uol.com.br)
                     
Ando bem impressionada como tem aparecido matérias na mídia sobre o envelhecimento. A maioria com boas notícias. Algumas, equivocadas no meu modo de ver porque querem mostrar o segredo da eterna juventude ou como ter uma aparência mais nova,  como se só pudéssemos ser felizes aos vinte anos. A fórmula da juventude vende revistas. Uma delas apresenta uma matéria sobre 32 formas de rejuvenescer: alimentos poderosos, cosméticos e tratamentos inovadores, além de pequenas mudanças de hábito. Tudo para "subtrair" alguns anos da nossa aparência.
Prometem desde o resgate da auto-estima até o fim da flacidez. Muitos sites também prometem alguns passos para o rejuvenescimento e apostam que mulheres e homens querem conquistar um olhar de 40 aos 60 anos. Novas tecnologias, pílulas do rejuvenescimento, últimos lançamentos de cremes e novos tratamentos que rejuvenescem o rosto por inteiro.
Uma das tantas matérias que li há alguns meses, fala sobre a relação da nova geração de mulheres que estão acima dos cinquenta anos e mantem uma boa relação com o espelho. No final do post, indico o link. Vale a pena dá uma olhada. Na matéria, a antropóloga Mirian Goldenberg diz que é mais fácil envelhecer na Europa do que no Brasil, onde a cultura obriga as mulheres a parecerem mais jovens.  Somos o segundo país no mundo onde mais se faz cirurgias plásticas e o terceiro consumidor de cosméticos, atrás apenas dos Estados Unidos e Japão.
Patricia K e Angela Vieira - Tamanho Único GNT
   
Voltando à longevidade, o Brasil também está se colocando entre os países com uma população significativa de idosos e idosas. Segundo O Estadão, "Houve um crescimento da  participação relativa da população, com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em 1991, passou a 5,9% em 2000 e alcançou 7,4% em 2010."

Uma importante pesquisa sobre a terceira idade no Brasil, foi feita pela Fundação Perseu Abramo que resultou na publicação "Idosos no Brasil - Vivências, desafios e expectativas na terceira idade", organizado pela professora Anita Liberalesso Néri e co-editado pela Editora Fundação Perseu Abramo e pelas Edições SESC. O livro reúne análises aprofundadas dos dados da pesquisa, que é uma das mais amplas já feitas no país sobre os idosos. Destaco a análise sobre a feminização da velhice, que como resultado das desigualdades de gênero nas expectativas de vida, entre outras razões faz com que existam mais mulheres idosas do que homens.

Uma outra matéria que chamou a minha atenção sobre a longevidade, é a que fala sobre "Cientistas que preveem a cura do envelhecimento". Já sabemos que envelhecer não é adoecer, embora o envelhecimento traga algumas doenças decorrentes da idade. O biomédico e gerontologista Aubrey de Grey promete 'extirpar' tais doenças que acompanham a velhice, prolongando a vida indefinitivamente. Ele diz que o envelhecimento é o acúmulo de vários danos moleculares e celulares do organismo e propõe uma geriatria preventiva. A matéria fala ainda sobre a tendência mundial de longevidade e diz que só no Japão existem 44 mil centenários e a pessoa mais longeva do mundo tem 122 anos.

Na semana passada o comercial sobre o programa Globo Repórter prometia muitas novidades para as pessoas com 50 anos ou mais. Maternidade aos 49 anos. Uma nova carreira aos 60. Planos para depois dos 70. Fui assistir, afinal de contas, esse é o meu - o nosso - universo. Um pouco mais de cinquentinha. O programa começa com uma pergunta no mínimo instigante: "Você já parou para pensar no que fazer depois dos cinquenta?" Eu não parei. Sigo pensando e agindo, buscando ser feliz.



O programa mostra mulheres e homens brasileiros que entre 50 e 60 anos iniciam uma nova carreira e enfrentam o mercado de trabalho. Mostra também a mulher que engravida aos 49 anos e uma idosa campeã master de natação. O Globo Repórter mostra que é possível realizar muitos sonhos e fazer planos mesmo depois dos setenta anos, mesmo depois de aposentados, como o pedreiro que enveredou pelo caminho da fotografia, uma paixão antiga que ele enfim pôs em prática com um curso de fotografia e investimento pessoal para se profissionalizar. Mostra ainda a artesã que aprendeu a cozinhar aos 45 anos e se tornou empresária e proprietária de restaurante ou mesmo a técnica em edificações que recomeçou a vida profissional aos 53 anos.
Ainda que sem maiores novidades, porque muito do que o programa apresenta não é exatamente inédito, eu gostei de mais uma vez saber que sim, nós podemos. Não me canso de ler e de buscar saber mais sobre a velhice e a longevidade. Por enquanto, quero ir pensando como cuidar de mim para que eu fique uma velhinha saudável e feliz, afinal de contas, uma vida longa só tem sentido se a gente estiver com saúde. Um abraço.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Elza, a fênix.

Foto: Google

Sempre tive uma admiração enorme por Elza Soares. Sua força, coragem e, sobretudo, sua capacidade de ressurgir das cinzas, tal como a fênix, aquele pássaro da mitologia grega que quando morria entrava em auto-combustão e passado algum tempo renascia das próprias cinzas.
Agora mais uma vez Elza dá a volta por cima e quase um mês depois de ser operada da coluna, comparece ao show de abertura da 9ª Flip (Festa Literária de Paraty). 
Segundo a reportagem da folha, para conseguir chegar ao palco, foi carregada por dois homens. A matéria intitulada "Elza assume a fraqueza do corpo e a força da voz", registra que mesmo sentada, Elza não deixou de arrancar aplausos entusiasmados da plateia pela simpatia e pela força da voz.
Justiça seja feita. Elza sempre impressionou, seja pela força da sua voz ou pela mulher que ela é: ousada, corajosa e valente. Sempre foi assim. E Elza tem uma história de muito sofrimento também. Casou-se e teve seu primeiro filho aos 12 anos e aos 18 já estava viúva. Fico imaginando como deve ter sido difícil para ela ainda uma menina - pobre, filha de lavadeira e operário - casar-se tão criança. Anos depois, enfrentou a hostilidade da  "família" brasileira quando em 1962 se apaixonou por Mané Garrincha que era casado com Nair com quem já tinha sete filhas, além de um casal de filhos com Iraci e um filho sueco, concebido em 1959. Contra tudo e todos, Elza assumiu o seu romance com Garrincha com quem viveu durante 15 anos e com quem teve um filho que faleceu em 1986, vítima de um acidente de carro quando ia visitar o pai, em Pau-Grande.

Foto: http://extra.globo.com/
A vida de Elza foi sempre marcada por tragédias e sofrimentos. E ela sempre, dando a volta por cima.Na reportagem da revista Veja (agosto de 2002), mais uma vez Elza levanta e sacode a poeira:"Até conquistar a fama, enfrentou preconceitos de toda ordem. A voz rasgante passou por momentos de glória e ostracismo. Seu romance com o jogador Garrincha foi turbulento. Durante anos, Elza pagou o pato pelo fato de o craque ter sucumbido ao álcool. "Poderia processar o Brasil", diz. Não parou de trabalhar, mas ficou distante do sucesso. A situação mudou. Em 2000, recebeu o título de cantora do milênio, dado pela BBC de Londres. Depois, estourou na trilha da novela Desejos de Mulher, cantando, em dueto com Chico Buarque, uma versão de Let's Do It, de Cole Porter. Agora, brilha solo com o CD Do Cóccix até o Pescoço. Amparado por canções inéditas de Chico Buarque, Caetano Veloso e Jorge Ben Jor, o disco foi consagrado pela crítica e bem recebido pelo público."



Elza Soares sempre apoiou a diversidade sexual e o movimento o movimento Lgbt. Já foi coroada  madrinha da comunidade Lgbt e participou recentemente da campanha: "Sim, eu aceito", em apoio à livre expressão do amor e o direito universal ao casamento.                                        

                        

Já assisti vários shows de Elza Soares e continuo sua fã incondicional. Desejo que ela se recupere o mais breve possível e que volte aos palcos em grande estilo. Cantando e dançando com toda a sua irreverência. Elza Soares é um dos maiores ícones da Música Popular Brasileira.  
                                       
Uma das músicas que Elza cantou na 9ª Flip foi Flores Horizontais, de Wisnik, baseada em poema de Oswald de Andrade, escritor homenageado pela Feira este ano. Eis a letra:
Flores Horizontais,
flores da vida
flores brancas de papel,
da vida rubra de bordel,
flores da vida
afogadas nas janelas do luar
carbonizadas de remédios, tapas, pontapés,
escuras flores puras, putas, suicidas, sentimentais.
Flores horizontais.
Que rezais?
Ouça a música Flores horizontais

Mais sobre Elza: